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quinta-feira, 21 de abril de 2016

Fosfoetanolamina aprovada

Recentemente, dia 14 de Abril, Dilma sancionou a lei que permite a distribuição e uso da fosfoetanolamina, a suposta "pílula do câncer". O problema é que a pílula ainda não foi passou pelos testes necessários para ser aprovada como remédio. 




Os testes são extremamente necessários. Não se pode comercializar e indicar drogas cujos efeitos em pessoas são desconhecidos. O processo de aprovação de um remédio é extremamente rigoroso, claro, para que não tornem a acontecer eventos como o da talidomida. Uma droga que foi aprovada em testes menos rigorosos que os de hoje e, se ingerida por mulheres gravidas, causa má formação fetal, a chamada focomelia (encurtamento dos membros junto ao tronco do feto). O surto de focomelia em 1960 mostra um pouco das consequências de se comercializar uma droga sem um estudo detalhado de seus efeitos. Não foram realizados testes em mulheres gravidas, laboratórios acreditavam que o teste em ratas prenhas fosse suficientemente conclusivo. Nesse teste, ratas em gestação ingeriam a droga e sua prole não manifestava complicações. Infelizmente a mesma situação não valia para Humanos. 

Com a fosfoetanolamina a situação é semelhante. Todos os artigos sobre o composto publicados até o momento dizem respeito apenas a estudos  realizados com ratos e camundongos. E mesmo assim só foram feitos testes com alguns tipos de câncer. Enquanto que a mensagem disseminada é a de que a pílula curaria todos eles. Por mais que vários oncologistas afirmem que cada câncer é uma doença complexamente diferente, as pessoas ainda insistem em acreditar no poder milagroso da pílula. Muitos falam de uma conspiração dos laboratórias contra uma possível cura que iria provocar suas falências. 

Bem, argumentar contra teorias da conspiração é algo bem cansativo, pois ela é criada em cima de lacunas não preenchidas por fatos. 

Entendo o desespero das pessoas e a desconfiança com as grandes empresas. Mas não podemos sair por ai criando histórias e, pior, segui-las como se já fossem comprovadas. Podemos desconfiar? Claro que sim. Então fiquemos com o pé atrás mas não deixemos que essa "suspeita" afete questões de suma importância como os teste de medicamentos.

Outra questão que algumas pessoas usam como uma prova de que a droga funciona são os relatos pessoais. No entanto, relatos não são evidência. Pacientes relataram que após tomarem a pílula sentiram melhora. Relatos semelhantes também eram vistos em drogas que posteriormente foram consideradas ineficientes ou até nocivas em estudos. Tomemos como exemplo a homeopatia. A diluição da solução é tão alta que a chance de encontrar qualquer partícula do produto ativo no "medicamento" é ínfima. Tomar esses compostos homeopáticos seria o mesmo que tomar água. Então, como explicar essa melhoras dos pacientes, ou pelo menos a sensação de melhora? Essa questão é explicada pelo efeito placebo, que é assunto para outra postagem. 

Além disso. Se considerássemos que os resultados em ratos também valem para humanos já estaríamos lascados. Em 1979 estudos relacionaram a droga como ativadora do câncer de mama em roedores.

Portanto, não sabemos se a droga realmente funciona. E pela falta de testes nem sabemos se ela é nociva. Saiu até uma noticia na Época sobre um paciente que tomava a pílula e mesmo assim teve seus tumores multiplicados. 

Alguns pacientes até estão trocando a quimio e radioterapia para usar apenas a droga, sobe a alegação de que esses métodos "reduzem a eficácia do tratamento com a pílula". Essas pessoas não percebem o risco que estão correndo, substituindo métodos baseados em estudos clínicos por uma pílula sem bases concretas de cura. 

Então devemos proibir a pílula? Não. Nos casos extremos, de pacientes em estado terminal que já tentaram de tudo pra se livrar da doença, a pílula pode sim ser usada como uma última esperança. Mas para isso a pessoa deve concordar em fazer parte do estudo e ser acompanhada constantemente para ver os efeitos da droga. Esse seria o ideal. Se vai deixar que usem uma droga não testada, então as pessoas precisam saber disso e precisam ser acompanhadas, até para que os dados obtidos possam ser adicionados aos estudos. 

No entanto, a nova lei sancionada pela Presidente deixou muitas perguntas sem resposta. Ninguém sabe quem pode vender, quem pode fabricar, quanto vai ser, e muito menos as dosagens recomendadas, afinal, a pílula não tem bula! Pelo que entendi lendo noticias e o próprio texto da lei, não haverá acompanhamento do estudo a pacientes que optem por usar a fosfoetanolamina, o que é um erro tremendo. As pessoas vão sair usando sem haver o menor controle disso. 

Fontes:
Site sobre a Talidomida: http://www.talidomida.org.br/oque.asp


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